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Jardins Botânicos

Benefícios do Horto do Pará

Escrito por Super User | Publicado: Sexta, 26 de Janeiro de 2018, 14h13 | Última atualização em Quinta, 25 de Março de 2021, 17h55

Carta de d. Rodrigo de Souza Coutinho para d. Francisco de Souza Coutinho, governador da capitania do Pará. Entre os diversos assuntos abordados, explicita a necessidade da manutenção dos investimentos científicos no Horto do Pará. O documento expressa a importância das espécies vegetais tropicais, consideradas “preciosas” para as ciências, em particular  para a medicina.


Conjunto documental: Capitania do Pará, Minas Gerais e Colônia do Sacramento
Notação: Caixa 747, pct.1
Datas-limite: 1764-1815
Título do fundo ou coleção: Vice-Reinado
Código do fundo: D9
Argumento de pesquisa: Jardim Botânico
Data do documento: 31 de julho de 1799
Local: Palácio de Queluz (Lisboa)
Folha(s): -

 

“Para Dom Francisco de Souza Coutinho[1]

Tendo levado à Real Presença do Príncipe Regente[2] Nosso Senhor as cartas, que V. Sª me dirigiu ultimamente ... e principiando a comunicar a V. Sª as Reais Ordens, que tenho recebido a respeitos dos diferentes objetos de que elas tratam, se me oferece dizer-lhe, que foram muito agradáveis a S. A. Real todas as informações que V. Sª dá no ofício nº 343, seja sobre a árvore, em cuja casca se supõe virtudes análogas à Quina[3], seja sobre a árvore, cuja casca, madeira e folhas oferecem um grande remédio para a hidropisia[4], seja sobre a carne em pó e a geleia, para suprirem tabletas de caldo; e o mesmo Augusto Senhor, fica esperando pelas remessas  das árvores, que têm a virtude da Quina e o remédio contra a hidropisia, para se mandarem fazer as convenientes experiências nos hospitais, e se avaliar a utilidade de que podem ser a humanidade .... Pelo ofício nº 348 e mapa que o acompanha, fica S. A. Real ciente do estado do Jardim Botânico nessa Cidade[5]; e o mesmo Augusto Senhor manda louvar muito V. S° pelos esforços, com que tem criado e aumentado o mesmo Jardim, de que para o futuro se hão de seguir os melhores efeitos, os quais ainda que ao princípio sejam vagarosos, com o tempo e com o efeito lento mas necessário da razão, hão de fazer-se úteis e palpáveis; e para este fim ordena S. A. Real, que V. Sª deixe disposto o modo, por que se hão de ir sempre aumentando particularmente as espécies preciosas, quais árvore a Pão[6], Caneleiras[7], pimenteiras[8], cravo-da-índia[9], árvores de café[10], árvores de construção; e como desse viveiro se hão de ir distribuindo para as outras Capitanias, V. Sª de oferecê-las aos seus respectivos governadores, logo que as tenha em maior abundância .... Deus guarde a V. Sª. Palácio de Queluz[11] em 31 de ju

 

[1]COUTINHO, FRANCISCO MAURÍCIO DE SOUZA (1730-1786): irmão de Rodrigo de Sousa Coutinho, ministro e secretário de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinos de d. João VI, foi governador da província do Grão-Pará, entre os anos de 1790 e 1803. Foi cavaleiro da Ordem de Malta e almirante da Armada Real. Durante o seu governo, promoveu a urbanização da cidade de Belém, o estabelecimento do Jardim Botânico do Pará, o cultivo de novas culturas agrícolas como o tabaco, cânhamo e arroz, além da introdução de novas técnicas de cultivo.

[2] JOÃO VI, D. (1767-1826): segundo filho de d. Maria I e d. Pedro III, se tornou herdeiro da Coroa com a morte do seu irmão primogênito, d. José, em 1788. Em 1785, casou-se com a infanta Dona Carlota Joaquina, filha do herdeiro do trono espanhol, Carlos IV que, na época, tinha apenas dez anos de idade. Tiveram nove filhos, entre eles d. Pedro, futuro imperador do Brasil. Assumiu a regência do Reino em 1792, no impedimento da mãe que foi considerada incapaz. Um dos últimos representantes do absolutismo, d. João VI viveu num período tumultuado. Foi sob o governo do então príncipe regente que Portugal enfrentou sérios problemas com a França de Napoleão Bonaparte, sendo invadido pelos exércitos franceses em 1807. Como decorrência dessa invasão, a família real e a Corte lisboeta partiram para o Brasil em novembro daquele ano, aportando em Salvador em janeiro de 1808. Dentre as medidas tomadas por d. João em relação ao Brasil estão a abertura dos portos às nações amigas; liberação para criação de manufaturas; criação do Banco do Brasil; fundação da Real Biblioteca; criação de escolas e academias e uma série de outros estabelecimentos dedicados ao ensino e à pesquisa, representando um importante fomento para o cenário cultural e social brasileiro. Em 1816, com a morte de d. Maria I, tornou-se d. João VI, rei de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1821, retornou com a Corte para Portugal, deixando seu filho d. Pedro como regente.

[3] QUINA: o quinino foi o remédio primordial no tratamento das febres, do paludismo e da malária, tendo sua virtude febrífuga testada nos hospitais Real e da Misericórdia, vindo a compor a Farmacopeia Geral do Reino, de 1794. As quineiras ou quinquinas são de origem sul-americana, do gênero Cinchona, da família das Rubiáceas (José Mendes Ferrão. A aventura das plantas e os descobrimentos portugueses. Lisboa, IICT, 2005), foram descobertas entre os séculos XVI e XVII, durante a conquista do império Inca pelos espanhóis, na região onde hoje se encontra o Peru, mas só se difundiram na América portuguesa posteriormente. O quinino utilizado era extraído da casca de determinadas espécies de quineiras, nativas do Peru. Entre seus nomes populares consta o “pó de jesuítas”, creditando-se a esses religiosos o envio da planta para as sociedades de dominação lusa, entre 1630 e 1640. Classificada pelo naturalista sueco Carl von Linné em 1742, com a criação do gênero Cinchona, que reunia algumas espécies com características terapêuticas similares, a quina foi um dos produtos naturais mais procurados na época moderna. Em 1820 os químicos franceses Pierre Joseph Pelletier e Joseph Caventou isolaram a quinina pela primeira vez das cascas da árvore e a identificaram como um alcaloide. A exploração da quina foi uma atividade bastante lucrativa, exportada principalmente da América hispânica para a Europa. A aclimatação da quina em Java, promovida pelos holandeses na busca da quebra do monopólio causou o declínio das exportações sul-americanas. Na América portuguesa, a partir de meados do século XVIII, se intensifica o interesse pelas quineiras, com buscas pela planta em meio à mata. Frei Mariano Veloso publicou, pela tipografia do Arco do Cego, a Quinografia portuguesa ou coleção de várias memórias sobre vinte e duas espécies de quinas, tendentes aos seus descobrimentos nos vastos territórios do Brasil  (1799), no qual além de descrever as propriedades medicinais da Cinchona, copiou desenhos e descrições de diferentes espécies de quina, ocupando-se também das falsas quinas, no intuito de facilitar a procura da planta no Brasil. Em 1811 a Academia Real das Ciências de Lisboa formou uma comissão para estudar a quina do Rio de Janeiro. Participaram dessa comissão, entre outros, o médico Bernardino Antônio Gomes e o mineralogista e botânico José Bonifácio de Andrada e Silva. As investigações resultaram em relatórios e memórias, como a Experiências Químicas sobre a quina do Rio de Janeiro comparada com outras”, de 1814. A quina que chegava do Brasil era encaminhada ao presidente do Real Erário, d. Rodrigo de Souza Coutinho, para ser estudada no Real Laboratório Químico da Casa da Moeda de Lisboa, dirigido por José Bonifácio.

[4] HIDROPISIA: acumulação de soro sangüíneo em alguma cavidade do corpo ou no tecido celular. É algo semelhante a um edema.

[5] JARDIM BOTÂNICO DO PARÁ: criado por carta régia de d. Maria I, em 4 de novembro de 1796, o Jardim Botânico de Belém do Pará foi instalado em terras doadas à fazenda real por Hilário de Souza, junto ao terreno do extinto convento de São José, numa área de 50 braças em quadro, alguns anos mais tarde expandida. Além dos objetivos determinados no documento de criação para estabelecimento de viveiros e educação de plantas, d. Francisco de Souza Coutinho, governador do Grão-Pará (1790-1803), considerou introduzir também o cultivo de plantas indígenas e de mudas de espécies de “árvores de construção”. A concepção do complexo do Jardim Botânico do Pará, incluindo o Jardim das Caneleiras e o assentamento de colonos em torno do jardim, teve inspiração no jardim La Gabrielle (1778), situado em Caiena, na Guiana Francesa, de onde várias espécies foram transplantadas para aclimatação, a exemplo de pés de abricó, frutas pão, abacateiro, cravos da Índia, jacas, jasmins e maracujás. Além das mudas provenientes da colônia francesa, cujo primeiro envio data do final de 1809, atuaram na fundação e primeiros anos do Jardim do Pará Michel du Grenouillier e Jacques Sahut, que vieram de Caiena. Contudo, a consolidação do jardim paraense se deu com a atuação de Marcelino José Cordeiro, que havia sido um dos auxiliares do governador do Rio Negro, Manuel da Gama Lobo d’Almada e administrador da Serraria Real do rio Acará. A importância do Jardim Botânico do Pará pode ser medida pela influência que exerceu na criação de hortos pelo Brasil, principalmente com a vinda da família real. Esse jardim recebeu, entre 1817 e 1820, a visita dos naturalistas Spix e Martius. Entre 1818 e 1821 o jardim botânico foi dirigido pelo médico e naturalista Antônio Corrêa de Lacerda que realizou experimentos agrícolas, renovou a plantação de caneleiras e a produção de canela e iniciou a catalogação e a classificação botânica das espécies cultivadas que deu origem à Flora Paraensis. A partir da década de 1820, teve início um período de degradação do complexo do jardim botânico, acentuado com as batalhas da Cabanagem. De acordo com o pesquisador Nelson Sanjad, esse período “demarca não só a falência do complexo comercial-científico de Belém, como também o fim de uma política de investimentos na cidade que vinha se mantendo desde meados do século XVIII (...)” (Nos Jardins de São José: uma história do Jardim Botânico do Grão Pará, 1796-1873. Dissertação, Unicamp, 2001. p. 153). Em relatório do ano de 1879, o presidente da Província do Pará, José Coelho da Gama e Abreu admite o fim do Jardim Botânico de Belém do Pará face ao seu estado de destruição.

[6] ÁRVORE DE PÃO: originária da região Indo Malásia, principalmente das ilhas de Java e Sumatra, a fruta-pão (Artocarpus altilis) é cultivada em muitas regiões do mundo. No Brasil teria sido introduzida por d. Francisco de Souza Coutinho, governador da capitania do Pará. Segundo Batista Benito Gabriel Calzavara, (Fruticultura tropical: a fruta-pão. Belém, EMBRAPA-CPATU, 1987), elas teriam vindo de Caiena em 1801. Nos anos seguintes, d. Rodrigo de Souza Coutinho, ministro da Marinha e Domínios Ultramarinos, recomendaria a sua inclusão no futuro jardim botânico da Bahia, devendo-se notar que a fruta-pão, utilizada por muitas culturas como alimento, foi, no século XVIII, revestida de muitas expectativas pelos europeus, que lhe atribuíram a possibilidade de mitigar a fome dos povos.

[7] CANELA DA ÍNDIA: produto proveniente de uma árvore natural do Ceilão, onde se concentrava sua cultura e exploração. A canela (Cinnamomum zeylanicum Breyn) é utilizada em pau ou moída e das folhas extrai-se um óleo essencial utilizado na perfumaria e na fabricação de sabonetes. Foi uma das especiarias mais procuradas na Europa moderna, trazendo grandes lucros para seus comerciantes e passando por sucessivos monopólios do século XVI ao XVIII. Primeiramente, os portugueses ocuparam o Ceilão, estabelecendo um comércio em sistema de exclusivo. Em 1656, os holandeses, com a Companhia das Índias Orientais, e mais tarde, em 1796, os ingleses lucraram com a exploração dessa especiaria. No período colonial, o plantio foi por muito tempo proibido no Brasil, para não concorrer com o Oriente. Chegou a esta colônia pela mão dos padres jesuítas. A canela é empregada na culinária e faz parte da cozinha luso-brasileira. A ela atribuem-se também propriedades medicinais. Algumas espécies brasileiras fornecem madeira de lei.

[8] PIMENTA: nome comum dado aos frutos ou condimentos extraídos de uma gama de plantas que tem sabor geralmente picante. Na Europa medieval, a pimenta, usada como condimento – para realçar o sabor e conservar os alimentos – e para fins medicinais, era um produto raro e caro, vindo do Oriente, e seu comércio era monopolizado por árabes e venezianos. Considerada uma especiaria, a pimenta-do-reino é uma espécie proveniente da Índia e a grande demanda pelo gênero foi fator impulsionador das grandes navegações do século XV. Após a descoberta de uma rota atlântica para o Oriente, em 1498, e a posterior conquista de Calicute, os portugueses alcançaram o controle desse comércio. Quando da chegada dos europeus na América, os índios do continente já cultivavam e empregavam as várias espécies nativas em sua alimentação, que logo seriam levadas para a Europa, ativando o negócio das trocas na primeira metade do século XVI, centrado nas especiarias.

[9] CRAVO-DA-ÍNDIA: também chamado cravinho ou apenas cravo, o Syzigium aromaticum (L.) é uma das especiarias de uso mais antigo, principalmente no Oriente. Botão da flor do craveiro, o cravo, depois de seco, é usado para temperar e aromatizar pratos. É também conhecido por suas propriedades medicinais e de perfumaria, como um poderoso antisséptico (era mascado para refrescar o hálito) e usado para melhorar o odor de ambientes. O cravo-da-índia, juntamente com a pimenta, a canela e a noz moscada, era a especiaria mais consumida na Europa no século XV e uma das mais caras. Originária das ilhas Molucas, na Indonésia, já era bastante conhecida e utilizada na China desde os séculos III-II a.C. Durante a Idade Média entrou na rota dos comerciantes árabes que transportavam produtos orientais para a Europa, passando por Constantinopla. A partir do século VIII, o comércio e uso do cravo se intensificaram no Mediterrâneo a preços muito altos. Esse comércio lucrativo acabou também por impulsionar que os europeus, sobretudo os portugueses, se lançassem aos mares em busca de rotas que permitissem buscar o cravo diretamente das “índias” e monopolizar sua venda na Europa. Em 1511, os portugueses chegaram às Molucas e verificaram nas ilhas quantidade de cravo suficiente para abastecer o Reino e ainda vender o que excedesse. Até chegar ao mercado europeu, a mercadoria percorria um longo caminho: era, primeiramente, escoada para Malaca, depois Goa, só então seguindo para o Mediterrâneo. Tal trajeto encarecia o preço da especiaria e logo essa atividade tão lucrativa despertaria o interesse dos holandeses que chegaram às ilhas produtoras no início do XVII e conseguiram expulsar os portugueses, passando a controlar o comércio do cravo. O monopólio da produção restringiu-se ao Oriente e às ilhas até meados do Setecentos, quando o cravo começou a ser plantado com sucesso em regiões da África e das Américas. As primeiras mudas levadas para Caiena datam de 1773, e os registros oficiais apontam que chegaram ao Brasil, na Amazônia, em finais do XVIII. No entanto, a produção em larga escala só foi registrada no Oitocentos. Mapas comerciais e balanços do Estado do Grão-Pará e Maranhão apontam que já havia produção de cravo na região, que figurava entre as drogas do sertão, e que o produto já era exportado para Portugal em fins dos anos 1760.

[10] CAFÉ: planta de origem etíope da família das rubiáceas, começou a ser utilizada como bebida na Arábia. A expansão do consumo pela Europa deu-se entre os séculos XVII e XVIII, por suas qualidades estimulantes. Consta que sua introdução no Brasil, em 1727, foi feita pelo oficial português Francisco de Melo Palheta, que plantou as primeiras mudas no Pará. Ao longo do século XX, o café tornou-se uma bebida popular e seu consumo e produção se expandiram, principalmente a partir de 1865, quando passou a ser comercializado torrado e empacotado (anteriormente era vendido em grãos). Destacam-se no Brasil duas grandes fases de expansão cafeeira. A primeira, no início do Oitocentos até os anos 1850, teve início nas encostas do morro da Tijuca em plantações caseiras, até a expansão por todo o vale do rio Paraíba do Sul, a leste e oeste, com foco na região da cidade de Vassouras, o maior centro produtor da época. Nestas regiões, o café iniciou seu grande desenvolvimento pela abundância de terras férteis, pelo bom clima e pela mão de obra escrava disponível. Ocupou o lugar das plantações de cana, algodão e alimentos, gerando escassez e carestia dos gêneros de abastecimento, além de ter promovido a derrubada e queimada de grandes extensões da mata atlântica. A segunda fase, que se iniciou a partir de metade do século XIX, após a proibição do tráfico de escravos, foi marcada pela expansão das lavouras para São Paulo, seguindo o vale do Paraíba e avançando pelo oeste paulista, depois de 1870. A grande demanda de mão de obra promoveu um aumento no preço dos cativos e um despovoamento das áreas de produção de açúcar no Nordeste, sobretudo. As lavouras do café no Rio de Janeiro e de São Paulo gerou significativas divisas, e uma nova, poderosa e politicamente forte aristocracia rural, a dos “barões do café”. Embora lucrativo, o plantio do café desgastava muito rapidamente o solo, razão para a constante movimentação nas áreas de cultivo e declínio da produção na região fluminense. Outro problema era a carência do uso de novas técnicas e instrumentos. A adoção de ferramentas como o arado e de máquinas a vapor para o beneficiamento, e mesmo de procedimentos simples como o enfileiramento dos pés, só foram adotados a partir dos anos 1870. Essa era uma das razões para o café brasileiro ser considerado de qualidade inferior, se comparado ao de outros países, o que não impediu, no entanto, que, ao longo do período imperial, o Brasil fosse o responsável por 50% da produção mundial, número que aumentou para 75% nas primeiras décadas da República.

[11] QUELUZ: cidade portuguesa, parte do concelho de Sintra, área metropolitana de Lisboa, no centro-sul do território do país. A cidade tornou-se célebre em função da construção do Palácio de Queluz, em 1747, como residência de verão da família real portuguesa. Anteriormente havia sido o pavilhão de caça da propriedade dos marqueses de Castela Rodrigo, que foi confiscada pela Coroa portuguesa durante a Restauração. O palácio, em estilo rococó, foi mandado construir pelo infante d. Pedro, futuro rei, tio e marido de d. Maria, com todo o luxo e apuro que a monarquia portuguesa podia prover, de forma a promover e indicar a solidez, a ostentação e a distinção da Coroa e de sua realeza. Com a morte do rei em 1786 e do primogênito (d. José) em 1788, a rainha começou a apresentar sinais de loucura e foi recolhida ao Palácio de Queluz. De lá, a partir de 1794, ela e o regente d. João governaram o reino e seus domínios no ultramar, quando o Palácio da Ajuda, principal sede da monarquia, pegou fogo e obrigou a Corte a mudar-se temporariamente para Queluz, onde permaneceu até 1807, quando se transferiu para o Brasil, em fuga das invasões napoleônicas. O “mundo” de Queluz ficou associado ao período em que foi sede do poder político durante o reinado mariano e a regência joanina, de transição da monarquia absoluta para uma governança constitucional e mais liberal. Esse mundo era caracterizado pela forte presença de uma sociedade de Corte do Antigo Regime, espelhada na Corte francesa de Versalhes (o palácio português era tido como uma versão modesta do exemplar francês), em um momento de reação às políticas reformistas pombalinas, de centralização estatal e de sacralização da figura do monarca, de intrigas palacianas e disputas entre os ministros e a alta realeza, que se sentia diminuída frente aos mandos e privilégios dos secretários de Estado. Antes de se tornar sede do poder político, Queluz era palco de grandes festas de São Pedro e São João, com missas, corridas de touros, concertos musicais e óperas, até a perda do herdeiro real, quando se manteve somente a celebração, bem mais modesta, do aniversário da rainha. Em 1807 deixou de ser a sede do governo e a partir de 1826 não mais foi usado pela monarquia para funções políticas. Foi no palácio que d. Pedro I, imperador do Brasil (Pedro IV de Portugal) nasceu e morreu, em 1834. Um século depois (1934) passou por um incêndio que destruiu todo o interior, mas foi completamente restaurado e atualmente é um importante ponto de visitação turística, além de servir hospedagem para chefes de Estado em visitas oficiais a Portugal.

Sugestões de uso em sala de aula:
Utilização(ões) possível(is):
- No eixo temático sobre a “História das relações sociais da cultura e do trabalho”
- No sub-tema “as relações sociais, a natureza e a terra”
- Ao trabalhar o tema transversal “Meio ambiente” 

Ao tratar dos seguintes conteúdos:
- Brasil colonial: riquezas naturais
- A economia colonial 
- A sociedade colonial: culturas naturais
- Viagens científicas

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