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Timbre brasileiro - Independência ou Morrer

Escrito por Super User | Publicado: Quinta, 14 de Junho de 2018, 15h08 | Última atualização em Segunda, 23 de Agosto de 2021, 16h21

"Timbre Brasileiro - Independência ou Morrer". Hino à independência que relata a luta dos "brasileiros"  com armas contra Portugal. São mencionados na letra os filhos e as mulheres dos lutadores e a glória da vitória: "Fomos Lusos, e quisemos/ De Lísia a glória suster/ Não quis Lísia, agora sofra/ Independência ou Morrer".

 

Conjunto documental: Independência do Brasil: Hinos
Notação: 740.5
Data-limite: 1822-1830
Título do fundo ou coleção: SDH - Diversos - "Caixas Topográficas"
Código do fundo: 2H
Argumento de pesquisa: independência do Brasil
Data do documento: 1822
Local: Rio de Janeiro
Folha(s): doc. nº 3

TIMBRE BRASILEIRO[1]
INDEPENDÊNCIA OU MORRER

                        1
Às Armas corramos todos
D'Europa contra o Poder[2];
Seja o Timbre Brasileiro
Independência, ou morrer[3].

                        2
Morram todos os Tiranos
Q'ofendem nosso Bem Ser;
Brasileiros[4] somos livres,
Independência, ou morrer.

                        3
Basta, tanto sofrimento....
Porque havemos mais sofrer?
Só se humilha quem não pode
Independência, ou morrer.

                        4
Pela Pátria[5] guerreando
Honra, e glória vamos ter,
Às Armas pois, não temamos,
Independência, ou morrer.

                        5
Nossos filhos, nossos Lares
Vamos, vamos defender;
Mas antes juremos todos
Independência, ou morrer.

                        6
Vinde, oh Lusos Brasileiros[6],
À nossa Causa[7] aceder
Corram todos igual Sorte:
Independência, ou morrer.

                        7
Vossos filhos e mulheres
Do Brasil vos fazem ser:
Igual Timbre vos distinga;
Independência, ou morrer.

                        8
Fomos Lusos, e quisemos
De Lísia a glória suster
Não quis Lísia, agora sofra
Independência, ou morrer.

 

[1] TIMBRE BRASILEIRO: durante o processo de emancipação do Brasil, adeptos da causa brasileira compuseram e apresentaram hinos de exaltação à Independência, como por exemplo o Timbre Brasileiro: independência ou Morrer, que relata a luta dos brasileiros contra Portugal, se libertado da tirania e alcançando a liberdade almejada. Nos anos seguintes a 1822, fez-se necessário escolher e apresentar tais insígnias aos ‘brasileiros', já com o intuito de fortalecer o pertencimento a uma nova pátria. No entanto, a composição escolhida como Hino da Independência era um poema de Evaristo da Veiga, Hino Constitucional Brasiliense, com música de d. Pedro I. O hino tornou-se bastante popular durante o período imperial, sendo proferido como hino nacional, embora de forma não oficial.

[2] D’EUROPA CONTRA O PODER: essa frase foi usada em uma das propostas de Hino à Independência como justificativa para as lutas pela emancipação de Portugal: no ambiente de difusão das ideias iluministas, do liberalismo econômico e de tantas revoluções, incluindo os conflitos coloniais em busca de independência, era necessário e justo que os povos empunhassem suas armas e lutassem contra o poder das monarquias absolutistas, que não tinham mais lugar no novo tempo. No caso específico do Brasil, o poder que vinha da Europa e ameaçava os brasileiros provinha das decisões das Cortes portuguesas de reativar o pacto colonial, rebaixando os direitos do Brasil como Reino Unido a Portugal e Algarve.

[3] INDEPENDÊNCIA OU MORRER: a convocação aos brasileiros a lutar pela emancipação do país retirada de um dos hinos propostos como Hino à Independência nos remete à frase que teria sido proclamada por d. Pedro às margens do rio Ipiranga - Independência ou Morte. Alguns historiadores chamam atenção para o fato de o 7 de setembro de 1822 não ter sido um acontecimento de grande repercussão na época, uma vez que a Independência praticamente já estava dada com a convocação da Assembleia, no decreto de 1º de agosto. No entanto, ao longo do império a narrativa da suposta proclamação ganhou uma aura que mostrava o imperador como o libertador do país da opressão e submissão que sofria pelo colonizador europeu.

[4] BRASILEIROS: até as vésperas da independência, o uso do termo ‘brasileiro’ ainda não era muito claro. Em oposição ao ‘brasiliense’, que denominava o natural da terra, nascido no Brasil, o ‘brasileiro’ costumava se referir àqueles que aqui se estabeleciam para negócios e para viver. Esses termos diluíam-se na grande categoria de súdito ou vassalo do Império português, do Reino de Portugal e do Reino do Brasil. Talvez, por conta desta definição mais “funcional”, como argumentou Hipólito da Costa, o termo ‘brasileiro’ tenha sido preferido durante o período de fermentação da independência do Brasil, quando, mais do que o local de nascimento, importava a adesão a um projeto, à causa do Brasil ou de Portugal. Deste modo, “brasileiro” foi empregado para denominar adeptos da causa da emancipação e prevaleceu, ao longo do Primeiro Reinado, para diferenciar de “portugueses” não exatamente de nascimento, mas partidários da volta dos vínculos com o Império português. Ambos os conceitos, portugueses e brasileiros, embora ainda não totalmente definidos, serviram para adjetivar os nascentes partidos, identificados com os grupos políticos envolvidos nas lutas pela independência. Depois da abdicação de d. Pedro I, o termo ganhou novo sentido, buscando incorporar outros elementos, culturais e simbólicos, que identificassem o “brasileiro” não somente como aquele que aderiu à causa do Brasil, mas o nascido no novo Império que se construía. Esse projeto de construção da identidade aparece com força, não por acaso, durante o período regencial, quando as identidades locais e regionais se sobrepunham a um sentimento nacional e ameaçavam a integridade do território do Estado.

[5] PÁTRIA: a origem do vocábulo pátria é atribuída a Homero, onde patra/patris correspondia à “terra dos pais”, relacionado tanto ao enraizamento ao lugar de nascimento quanto à fidelidade a uma terra e a um grupo de pessoas identificados por uma herança em comum. A pátria seria, portanto, a origem, determinada pela ancestralidade. Essa concepção perdeu força durante a Idade Média, pois, com a fragmentação política e fortalecimento da Igreja Católica, o termo associar-se-ia a ideia de religião. No entanto, a primeira acepção da palavra ganharia novo impulso na Idade Moderna, vinculada, então, ao conceito de nação – em sentido também moderno – como unidade política. No contexto da crise do sistema colonial e processo de emancipação brasileira, a reflexão sobre os conceitos de pátria e nação se impôs e seus sentidos foram distanciados: pátria seria o lugar de nascimento e nação o sentimento de pertencimento à monarquia portuguesa. Por outro lado, no início do século XIX, Frei Caneca defenderia a ideia de “pátria de direito”, que seria determinada pelo lugar de residência, onde estariam estabelecidos os próprios negócios, decorrente da escolha e da vontade de pertencimento. Nesse momento de passagem de uma identidade nacional portuguesa para uma identidade nacional brasileira, buscou criar entre os europeus residentes em Pernambuco e os naturais da província o sentimento de pertencimento a essa pátria de direito. Durante a revolução pernambucana de 1817, o termo patriota seria usado pelos insurgentes para identificar os partidários da causa.

[6] LUSO-BRASILEIROS: expressão utilizada no hino “Timbre brasileiro” de exaltação à Independência do Brasil, datado de 1822. Convocava todos os portugueses que se estabeleceram no Brasil ou que tinham aqui seus interesses a defender a causa da independência. Tanto portugueses e brasileiros eram nesse momento construções políticas, relacionadas à sua adesão ou recusa ao projeto de ruptura com a metrópole. O hino procurava mostrar que os portugueses não estavam excluídos do projeto de construção de uma nova nação. Havia um reconhecimento das raízes portuguesas na criação do país, já que o próprio imperador era português. Portanto, o projeto para o recém-criado império ia além das barreiras geográficas. Pretendia formar uma nação da união dos dois reinos, uma nação luso-brasileira.

[7] NOSSA CAUSA: Reforça a ideia dos luso-brasileiros a aderir a justa causa da independência, a causa dos brasileiros.

 

Sugestões para uso em sala de aula:

Utilizações possíveis
- Nos eixos temáticos: "História das representações e das relações de poder".
- Ao abordar o sub-tema: "Nações, povos, lutas, guerras, revoluções".

Ao tratar dos seguintes conteúdos
- Independência política;
- Lutas pela independência política;
- Processo político de independência do Brasil;
- Mitos dos heróis nacionais.

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