A obra de Jean Luiz conta a trajetória dos processos de cura ao longo do século XVIII na colônia portuguesa...
A obra de Jean Luiz conta a trajetória dos processos de cura ao longo do século XVIII na colônia portuguesa. A administração da medicina na América Portuguesa foi bastante flexível dada a escassez de indivíduos formados em medicina. Esta raridade numérica de médicos ou físicos obrigou os cirurgiões a desempenhar certas funções que teoricamente não lhes competia. A partir das práticas locais utilizadas pelos jesuítas que por sua vez aprenderam com os nativos indígenas, estes profissionais foram pouco a pouco incorporando junto ao seu saber médico hábitos de um aprendizado bem diferente do seu. O saber local caracterizado pela praticidade e pelo experimentalismo construídos a partir dos rituais de cura dos índios (ervas, danças, magias, mantras e evocação dos astros) se contrapõe ao embasamento teórico racional e mecanicista praticado pelos profissionais formados pela academia em cujos postulados exaltavam a aplicação de remédios da medicina clássica grego-romana. A fusão destas duas culturas- a primeira- local, holística que defende a ideia de que o corpo está interligado e recebe influência de fatores externos, e a segunda- estrangeira, de que o corpo é uma engrenagem independente do seu meio e sua desordem é vista simplesmente como uma consequência do mau funcionamento interno de seus órgãos. Estes dois mundos se confrontam e coexistem nas últimas décadas do século XVIII e na análise desta ótica consiste a temática do livro "Domínios do Corpo".
Redes Sociais