Ir direto para menu de acessibilidade.
Início do conteúdo da página

Mulheres na Colônia

Publicado: Sexta, 03 de Dezembro de 2021, 19h44 | Última atualização em Sexta, 03 de Dezembro de 2021, 19h44

As mulheres tiveram um importante papel no projeto de colonização. Nos primeiros anos, foi inegável a necessidade de propiciar o casamento e sua consequente descendência na colônia, promovendo o povoamento do vasto território e preenchendo os cargos na administração colonial. Existia, desde o princípio, a ideia de se viabilizar a colonização com a vinda de mulheres reinóis – únicas capazes de produzir descendentes puros. Seu papel na colônia estaria relacionado, sobretudo, à necessidade de reprodução. Assim, na segunda metade do século XVI, jovens órfãs chegariam no Brasil para se casarem, gerando famílias brancas. No entanto, esse número não seria suficiente e, na ausência de brancas, se teve como alternativa a mestiçagem. A união entre homens brancos e índias seria largamente incentivada, o que poucas vezes ocorria por meio do casamento. A prática do concubinato e a violenta exploração sexual das mulheres indígenas foram as formas como, na maioria das circunstâncias, essa mistura se daria, apesar dos esforços do governo em sistematizar o casamento misto. Para José Murilo de Carvalho, “a miscigenação se deveu à natureza da colonização portuguesa: comercial e masculina. Portugal, à época da conquista, tinha cerca de 1 milhão de habitantes, insuficientes para colonizar o vasto império que conquistara, sobretudo as partes menos habitadas, como o Brasil. Não havia mulheres para acompanhar os homens. Miscigenar era uma necessidade individual e política. A miscigenação se deu em parte por aceitação das mulheres indígenas, em parte pelo simples estupro”. [CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil. O longo caminho. 16ª ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013, p. 20-21.] Já no caso das escravas africanas, o estupro era norma. Os senhores de engenho utilizavam esta mão de obra, principalmente para trabalhos domésticos, cozinheiras, arrumação doméstica, e até mesmo amas de leite de seus filhos. Viviam em condições subalternas e em constante exploração física e sexual. Apesar de sua importância para a construção do Brasil, à mulher sempre foi destinado um papel secundário dentro do sistema patriarcal. O cotidiano feminino era marcado por rígido controle, fundamentado sobretudo pelo discurso da Igreja católica e da medicina: a mulher era inferior, pecadora e propícia a ação maligna, seu corpo fonte de perversão e sedução, cabia ao homem domesticá-la. Esposa e mãe, cerceadas de seus direitos jurídicos, estariam confinadas ao espaço privado do seu senhor (pai ou marido). Entre as classes altas prevaleceu o modelo de casamento tradicional e de disciplina sexual, exigindo maior controle das mulheres, devido a questões morais e de manutenção da propriedade e da nobreza. Por outro lado, nas classes baixas havia algum espaço de maior liberdade, tanto no formato das famílias como no comportamento sexual das mulheres, no entanto, um lugar marginal, inferior, já que o contrato matrimonial era um eficiente instrumento de hierarquização, importante na afirmação do status do homem, mas principalmente, o da mulher.

registrado em: ,
Fim do conteúdo da página